Pão de blueberries, alfazema e mel

 

 

Hoje, 16 de outubro, é o Dia Mundial do Pão.  É a World  Bread Day 2015 convoca blogs do mundo todo para publicarem receitas de pão neste dia. Clique na logo abaixo para conferir.

Segue minha homenagem.

Quando eu era criança o hábito ainda era fazer pão em casa.

 
O outro pão, o comprado fora, chamávamos "pão de padeiro", e esse, era quase proibitivo para uma família com cinco crianças. 
 
E num tempo em que guloseima entre as refeições significava uma fatia de pão com doce de abóbora, de banana, com mel ou com margarina e açúcar, então não "havia pão que chegasse". 
 
É... ainda não vivíamos estes tempos esdrúxulos de bolacha recheada e salgadinhos deprimentes.  
 
Então, saía uma fornada de pão por semana. 
 
Minha mãe tinha um forno de pão no fundo do quintal e o "dia de fazer pão"era um acontecimento. Sim... Porque consumia-se o dia todo na tarefa.

Havia a "bacia de pão", de alumínio, enorme, reservada só para este fim. Era nela que minha mãe amassava o pão, 5kg de farinha a cada vez. E apesar do tamanho da bacia, depois de crescida, a massa quase transbordava. E os braços? Minha mãe sovava aquele pão e a massa vinha até os cotovelos, depois lavava não apenas as mãos, mas também os braços que ficavam cheios de bolinhas de massa...
 
 A bacia era posta na despensa, coberta por um pano branco e limpíssimo e quando fazia frio era rodeada por um cobertor para auxiliar o crescimento.
 
Depois a massa era novamente sovada, dividida, moldada e colocada nas formas untadas, e novamente posta para crescer.
 
Havia ainda todo o ritual para se fazer o fogo no forno. Não me lembro em que etapa da confecção do pão se começava o fogo. Mas ele ardia vermelho e anunciava a proximidade do pão pronto. O forno era varrido, e minha mãe colocava dentro uma folha de couve para testar a temperatura. É só então "enfornava" com a  ajuda de uma pá. 
 
E reiteremos que esse forno, essa pá, foram feitos pelo meu pai, e desabaram num dia em que eu, com cerca de dez anos, tentando fazer balas de caramelo no quintal, já que me haviam vedado a cozinha já limpa depois do almoço; pus fogo nas vigas de madeira que o sustentavam. Pode-se imaginar o tamanho da surra que levei nesse dia. Uma surra que aplacou minha consciência ainda mais machucada pelo estrago que causei.
 
Todo esse processo, essa ciência me fascinavam. 
 
E aquela fornada durava uma semana. Eu gostava mesmo, como todo mundo, do  primeiro dia, o pão fresquinho. Sempre comíamos um pão ainda quente e era o único dia em que comíamos margarina. Famosa na época, não era muito apreciada na minha casa, mas com o pão quente era imbatível. E claro, havia desbancado a manteiga, muito mais cara e segundo as crianças, mais difícil de espalhar no pão. 
 
Ao longo da semana o pão ia ficando velho. E nosso apreço por ele diminuía. Mas minha mãe, cozinheira cheia de truques, fazia fatias, cobria com margarina e levava ao forno. Aquelas torrada de pão!  Outro truque era bater ovos, passar a fatia de pão e fritá-los. Comer um pão frito sem culpa só na minha infância...
 
Falando em pão frito... Minha mãe costumava reservar um tanto de massa, para esticar no meio da tarde e fazer bolinhos que ela fritava no óleo quente. Inesquecível. Adorávamos. 
 
Depois minha mãe foi "trabalhar fora" e as fornadas diminuíram. E, por minha culpa, os pães passaram a ser assados no forno à gas,  já que minha mãe não autorizou a construção de um novo forno. Segundo ela, era muito sacrifício... 
 
O "pão de padeiro" se popularizou e buscá-lo quentinho na padaria do seu Martins virou hábito. Seu Martins, era um português dono da mercearia do bairro que tinha também um açougue e uma padaria. Sabíamos o horário de saída da fornada no meio da tarde e corríamos buscar o pão, convenientemente anotado na "caderneta" que minha acertava quando saía o "pagamento".
 
Ainda sinto aquele cheiro de pão como se estivesse entranhado nos meus poros. Por isso quando a Patrícia me avisou dessa homenagem ao pão, meu primeiro desejo foi de um pão que cheirasse muito bem. 
 
Como sou muito muito relapsa com recados só vi este tarde da noite de ontem. Então, não tinha jeito, hoje é sexta-feira, um dia corrido, e se eu quisesse homenagear este alimento tão importante em todas as culturas teria que ser um com a cara dos nossos dias, tempo escasso, tempo atribulado, tempo curto. 
 
E aí está meu pão doce, amo pães doces, cheirando a mel e alfazema, salpicado de blueberries desidratadas. Vou comê-lo com nata misturada à mel e lembrar dos braços da minha mãe cheios de bolinha de massa de pão, do meu pai que beijava o pão antes de o cortar e da minha avó paterna, uma polaca carrancuda, que fazia o sinal da cruz sobre cada pão antes de enfornar. 
Ingredientes 
 
Mistura seca
3 xícaras de farinha de trigo
1 colher de sopa de fermento em pó
1/3 de xícara de açúcar
1/3 xícara de blueberries desidratadas
1 colher de sopa de flores secas de alfazema
 
Mistura líquida
 
3 ovos
1/4 xícara de leite
1 copo de 170g de iogurte natural integral
1/2 xícara de mel
 
Ao final do preparo
50g de manteiga derretida
Óleo o quanto baste para completar juntamente com a manteiga 1/2 xícara 
 
Modo de preparo
 
Unte e enfarinhe uma forma de pão.
 
Pré aqueça o forno a 180o.
 
Junte numa tijela todos os ingredientes da mistura seca.
 
Bata no liquidificador os ingredientes da mistura líquida.
 
Junte a mistura líquida à mistura seca e mexa até integrar bem todos os ingredientes. Acrescente a mistura de manteiga derretida e óleo, que devem juntos atingir meia xícara.
 
A massa fica bem mais espessa que um bolo, mas bem mais leve que um pão amassado.
 
Coloque na forma, dê umas três batidinhas e leve ao forno por cerca de 40 minutos. Aos trinta minutos confira e é se já estiver muito dourado, faça o teste do palito, e precisando deixar ainda no forno cubra com uma folha de alumínio.
 
Ao tirar do forno deixe repousar uns cinco minutos, desenforme e deixe esfriar sobre uma grade.
 
Eu polvilho açúcar de confeiteiro porque adoro o efeito visual, e amo a sensação do açúcar ao morder uma fatia.
 
Como já disse vou comer o meu com nata batida misturada a um pouquinho de mel. Deleite-se!